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A Enfermaria do Real Convento de Thomar

 

Salus Infirmorum - A enfermaria do Convento da Ordem Militar de N. S. Jesus Christo em Thomar

 

 

Salus Infirmorum - A enfermaria do Convento da Ordem Militar de N. S. Jesus Christo em Thomar

Desde o início da nacionalidade que mosteiros e conventos têm na prática assistencial um dos seus pilares de actuação: tratam da alma e do corpo, em conformidade com os seus princípios religiosos – a caridade para com o próximo, prestando cuidados a pobres e enfermos.

Este tratamento resultava numa mistura de ciência, fé e misticismo que, muitas vezes, incluía a utilização de mezinhas e relíquias de santos e amuletos.

Os doentes assistidos, neste Real Convento, seriam essencialmente freires residentes, visitantes, cavaleiros e peregrinos que a este recorriam nas rotas de Santiago de Compostela. Porém, em Tomar, a partir do século XVI, a Misericórdia prestava já semelhantes funções - depois de absorver pequenos hospitais com variadas funções como asilos e gafarias.

A zona da cura era constituída por várias celas, uma botica e uma pequena capela, além de alojar médicos e enfermeiros na zona NE do edifício. Com fácil acesso à estrada, perto tanto da Portaria Real como da hospedaria, era articulada com o convento, porém, afastada o suficiente para possibilitar recato e isolamento em caso de infecções. Contava ainda com uma varanda para convalescença que encarava um jardim de ervas, onde se semeavam plantas aromáticas e medicinais.

Todos os materiais empregues na enfermaria eram escrupulosamente selecionados, tendo o provedor do Convento obrigação de fornecer tudo o o que fosse necessário para o tratamento dos enfermos.

O corpo clínico era formado por um enfermeiro religioso, escolhido criteriosamente, de boa índole e muito caridoso, que zelava pelos doentes com cuidado, amor e abnegação, fazendo as rondas necessárias e dormindo perto deles. Era auxiliado por um aprendiz ou ajudante, converso ou noviço, que assim faria a sua formação.

A higiene do leito, do espaço físico da enfermaria (que necessitava de arejamento e desinfecção) e de toda a roupa de linho - que era lavada e colocada à parte da do restante convento – era também obrigação do enfermeiro ajudado por serventes, escravos ou conversos.

Conforme as regras vigentes nos hospitais reais, e inspirando-se no Regimento do Hospital de Todos os Santos, em Lisboa, o enfermeiro tinha que saber ler e escrever para melhor interpretar e cumprir as prescrições do sico/médico.

O médico visitava os doentes duas vezes por dia, de manhã e à tarde, fazendo-se acompanhar pelo Prior ou um seu representante, o enfermeiro, o boticário e o cirurgião, como atesta documentação do século XVIII, corroborada pela prática realizada em outros conventos. O físico calculava a pulsação, apalpava, sentia a temperatura, observava urina e fezes, diagnosticando a enfermidade através de sinais exteriores visíveis.

O padre enfermeiro cumpria as prescrições médicas que incluíam a terapêutica medicamentosa, todos os tratamentos a efectuar - como um clister ou uma sangria (flebotomia) - a higiene a ser feita, os banhos, a dieta alimentar... Tudo isto era anotado numa tábua engessada, para que não houvesse enganos.

O boticário, também religioso, tinha que ser curioso e experiente na botica. Elaborava as composições prescritas pelo físico, segundo os manuais que possuía, e, exceptuando unguentos e pós de uso banal, todas as outras preparações eram dependentes da autorização do Prelado. Medicamentos de difícil composição ou cuja confecção fosse desconhecida, eram mandados comprar a boticas exteriores.

O cirurgião extraía dentes, tratava de feridas e úlceras, realizava amputações e até curava luxações, embora, muitas vezes, essa função pudesse recair no algebrista, antepassado do ortopedista. Sem formação académica, ao contrário dos médicos, a cirurgia era considerada quase um ofício mecânico, por lidar com a anatomia humana, actividade considerada pouco digna para os físicos.

O barbeiro, além de exercer a profissão que o denomina, efectuava sangrias, aplicando ventosas e sanguessugas. Esta terapêutica foi, durante muito tempo, a técnica mais utilizada para curar os males, sendo aprendida de modo empírico com mestres e regulada apenas no século XVI mediante um exame após 2 anos de experiência.

Pelas propinas pagas por Cavaleiros, Freires conventuais, Noviços - quando tomavam o hábito ou professavam - conclui-se que, no início do século XIX, se encontravam dois médicos ao serviço do convento, um cirurgião, dois barbeiros, um boticário e praticante ou moço de botica, sendo os dois primeiros profissionais os mais bem pagos a seguir ao D. Prior Mor.

Muitos dos médicos mais famosos do século XVII e XVIII foram cavaleiros professos da Ordem de Cristo, como João Curvo Semedo, médico da Casa Real, profissional de transição que ajudou a popularizar os medicamentos químicos.

 

 

Convento de Cristo / Igreja do Castelo Templário
2300-000 TOMAR
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